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Aliança de contrários

Os números levantados pelos repórteres Daniel Bramatti e Rodrigo Burgarelli, do jornal O Estado de S.Paulo, confirmam ,em larga escala ,os cenários da disputa regional como o fator responsável pelo conflito entre PT e PMDB e, por extensão, a dissidência ampla no principal aliado da presidente Dilma Rousseff no plano nacional.

Desde sempre, o PT tem como um de seus principais objetivos alcançar o PMDB na corrida pela hegemonia partidária para dar ao seu projeto de poder a consistência que sua menor capilaridade até hoje impediu. E que provavelmente se manterá como obstáculo a essa pretensão.

Se o partido não logrou êxito nessa tentativa na década em que teve à frente do governo o líder mais popular do país, com índice de avaliação positiva na casa dos 80%, seria excesso de otimismo projetar a consecução do objetivo para os próximos anos.

Essa disputa hegemônica determinou o conflito na convivência entre os dois partidos na esfera federal. Para manter a liderança regional (o PMDB) e para reduzi-la (o PT), é essencial o comando dos ministérios mais estratégicos, sendo estes os que têm inserção regional forte, com órgãos e programas fomentadores do desenvolvimento e produtores de capital político.

Não por outra razão, a queixa permanente do PMDB foi não só com a destinação de um maior número de ministérios para o PT, como também os mais estratégicos. O governo se defendeu da acusação com a necessidade de contemplar os demais partidos aliados, reservando a estes, e não ao PMDB, pastas como a das Cidades e da Integração Regional, com PP e PSB, respectivamente.

O meio de pressão peemedebista esteve todo o tempo nas relações congressuais. Com as presidências das duas casas do Legislativo compensou a pequena diferença numérica em relação à bancada do rival e impôs-se de vez ao governo, facilitado pela queda nos índices de aprovação presidencial e na desidratação do patrimônio político do PT com o mensalão.

Mesmo assim, não conseguiu mais espaço na estrutura de governo, na forma e termos que desejava. Com a aprovação em declínio, Dilma também perdeu seu poder impositivo na aliança e a convenção nacional do PMDB que registrou uma dissidência de 40% quanto ao apoio à reeleição, foi o fecho de um processo ditado pelos objetivos hegemônicos inconciliáveis.

Os dados da matéria da dupla de jornalistas do Estadão não deixam margem a dúvidas: os dois partidos só estão em aliança em 25% do eleitorado, disputando os outros 75% como adversários. A visão antecipada desse cenário é que permitiu ao candidato do PSDB, Aécio Neves (MG) investir silenciosamente nessa divisão e aprofundar as dissidências regionais, enfraquecendo a candidatura presidencial.

A dificuldade imposta a Dilma está na desidratação das militâncias, essencial às campanhas e candidatos. Inverte-se a lógica da época em que prevalecia a regra da verticalização ( a que alinhava compulsoriamente as alianças regionais à nacional) e impõe-se a força dos interesses regionais sobre a nacional.

Se o governo permanecesse forte na avaliação popular, como antes de junho de 2013, possivelmente o fim da verticalização relativizaria o dano eleitoral para sua candidata, mas à supressão da regra somou-se a queda vertiginosa da aprovação de governo e presidente, produzindo uma espécie de “tempestade perfeita”, no contexto político-eleitoral.

O PT experimentou uma corrosão maior que a da presidente, provavelmente por causa do mensalão, que expôs as mazelas do partido após a chegada ao poder. Não foi dano pequeno, mas proporcional aos fatos que o geraram: um esquema de desvios de recursos públicos em dimensão gigantesca e inédita para sustentar o projeto de permanência no poder.

Dilma paga por isso, mas também pela desastrada e até certo ponto juvenil aventura de mexer no que estava dando certo – ou dera, pelo menos, para seu antecessor e criador. Quebrou o compromisso com o modelo econômico mantido por Lula e perdeu o rumo da gestão, com inflação acima da meta, seca de investimentos e estagnação do desenvolvimento.

 


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